Crase: O Guia Definitivo Para Nunca Mais Errar

Compartilhe este artigo:
Precisa corrigir seu texto?
Use nosso corretor de texto online gratuito para corrigir erros gramaticais, ortográficos e de estilo em português.
Corrigir meu texto agoraO uso da crase é, sem dúvida, um dos tópicos gramaticais que mais geram dúvidas entre falantes da língua portuguesa. Aquele acento grave (`) que aparece em palavras como “à” ou “às” costuma causar confusão até mesmo entre pessoas com bom domínio da língua. Neste artigo, vamos desmistificar a crase de uma vez por todas, oferecendo dicas práticas e exemplos claros para que você nunca mais tenha dúvidas.
O que é a crase, afinal?
Antes de tudo, é importante entender o que é a crase. Muitas pessoas pensam que a crase é o próprio acento grave (`), mas isso não é correto. A crase é, na verdade, o fenômeno fonético que representa a fusão de duas vogais idênticas. No português, a crase ocorre especificamente na junção da preposição “a” com o artigo feminino “a” ou com o “a” inicial de pronomes demonstrativos como “aquele” e “aquela”.
O acento grave (`) é apenas a representação gráfica desse fenômeno. Quando escrevemos “à”, estamos indicando que houve a fusão de “a + a”.
A regra fundamental: dois “As” se fundem em “À”
Para haver crase, são necessárias duas condições simultâneas:
- A palavra que antecede o “a” deve exigir a preposição “a” (geralmente um verbo ou um nome que pedem essa preposição)
- A palavra que sucede o “a” deve admitir o artigo feminino “a” (substantivos femininos)
Em outras palavras: quando um “a” (preposição) encontra outro “a” (artigo), eles se fundem, formando “à” (com crase).
Dicas práticas para nunca mais errar
Dica 1: Faça o teste da substituição por palavra masculina
Esta é provavelmente a dica mais útil e prática para verificar o uso da crase. Substitua a palavra feminina por uma palavra masculina equivalente:
- Se aparecer “ao” na versão masculina, use “à” na versão feminina.
- Se aparecer apenas “a” na versão masculina, não use crase na versão feminina.
Exemplos:
- “Fui à escola.” (Fui ao colégio.) → Usa-se crase, pois na versão masculina aparece “ao”.
- “Comprei a caneta.” (Comprei o lápis.) → Não se usa crase, pois na versão masculina não aparece “ao”.
Dica 2: Na dúvida, faça duas perguntas
Para verificar se deve usar crase, faça estas duas perguntas:
- Há a preposição “a”? (Verifique se o verbo ou nome anterior exige a preposição)
- Há o artigo “a”? (Verifique se a palavra seguinte aceita o artigo definido)
Se a resposta for “sim” para ambas as perguntas, então use crase. Se qualquer uma das respostas for “não”, não use crase.
Dica 3: Memorize os casos em que a crase é sempre obrigatória
Existem situações em que a crase é sempre obrigatória, independentemente de outras regras:
- Nas locuções adverbiais femininas: à noite, à tarde, à vontade, às pressas, às escondidas, à beça.
- Nas locuções prepositivas: à frente de, à espera de, à procura de, à beira de.
- Nas locuções conjuntivas: à medida que, à proporção que.
- Na indicação de horas determinadas: Chegarei às 8 horas. Saímos à 1 hora.
- Na indicação de distância ou modo específico: Estamos à distância de 10 km. Feito à mão.
Dica 4: Memorize os casos em que a crase é sempre proibida
Da mesma forma, há situações em que a crase nunca ocorre:
- Antes de palavras masculinas: Refiro-me a um amigo. (exceção: nomes de lugares que aceitam o artigo “a”: Fui à Bahia.)
- Antes de verbos: Começou a chover.
- Antes da maioria dos pronomes: Refiro-me a ela. Entregue a qualquer pessoa.
- Antes de artigos indefinidos: Refiro-me a uma amiga.
- Entre palavras repetidas: cara a cara, gota a gota.
- Antes de nomes de cidades que normalmente não aceitam artigo: Vou a Paris. (exceção: Se o nome da cidade aceitar artigo, usa-se crase: Vou à Bahia.)
- Após a preposição “até” quando esta tem sentido exclusivo: Fui até a escola. (mas podemos dizer: Fui até à escola, se quisermos enfatizar o “à”.)
Dica 5: Atenção especial com a palavra “casa”
A palavra “casa”, quando usada no sentido de “lar, residência” e sem determinante (artigo, pronome ou adjetivo), não admite crase:
- Vou a casa. (= vou para minha própria residência)
- Vou à casa de Maria. (= vou à residência de Maria)
- Vou à casa amarela. (= a casa está determinada pelo adjetivo “amarela”)
Dica 6: Teste da substituição por “para a”
Se você pode substituir o “a” por “para a” e a frase mantiver o sentido, então há crase:
- Vou à praia. (Vou para a praia) → Usa-se crase
- Comprei a televisão. (Comprei para a televisão? Não faz sentido) → Não se usa crase
Casos especiais que geram confusão
1. Nomes de lugares
Com nomes de países e cidades, a regra é verificar se o nome aceita ou não o artigo “a”:
- Vou a Portugal. (não se diz “o Portugal”, então não há crase)
- Vou à França. (diz-se “a França”, então há crase)
- Vou a São Paulo. (não se diz “a São Paulo”, então não há crase)
- Vou à Bahia. (diz-se “a Bahia”, então há crase)
2. Com o pronome “aquele” e variações
A crase ocorre quando a preposição “a” encontra os pronomes demonstrativos “aquele”, “aquela”, “aqueles”, “aquelas”, “aquilo”:
- Refiro-me àquele livro. (a + aquele)
- Entreguei o documento àquela funcionária. (a + aquela)
3. Com o pronome “qual” e “quais”
Usa-se crase antes do pronome relativo “qual” e “quais” quando há a preposição “a” e esses pronomes se referem a um termo feminino:
- Esta é a caneta à qual me referi. (a caneta = feminino)
- Estas são as questões às quais devo responder. (as questões = feminino)
Exercício prático: Acerte o uso da crase
Agora, teste seus conhecimentos. Indique se as seguintes frases devem levar crase ou não:
- Fui ___ feira comprar frutas.
- Vou ___ pé para o trabalho.
- A reunião está marcada para ___ 10 horas.
- Refiro-me ___ sua proposta anterior.
- Ele voltou ___ casa tarde ontem.
- Eles foram ___ Recife nas férias.
- Começamos ___ entender o problema.
- Estou disposto ___ ajudar.
- Fomos ___ Faculdade de Medicina.
- Chegou ___ tempo para a reunião.
Respostas:
- Fui à feira comprar frutas. (usa-se crase, pois é “fui à feira” = “fui ao mercado”)
- Vou a pé para o trabalho. (não se usa crase, pois “pé” é masculino)
- A reunião está marcada para às 10 horas. (usa-se crase, pois é indicação de hora determinada)
- Refiro-me à sua proposta anterior. (usa-se crase, pois o verbo “referir-se” exige a preposição “a” e “proposta” é feminino)
- Ele voltou a casa tarde ontem. (não se usa crase, pois “casa” no sentido de lar, sem determinante, não aceita artigo)
- Eles foram a Recife nas férias. (não se usa crase, pois “Recife” não aceita artigo)
- Começamos a entender o problema. (não se usa crase, pois antes de verbo no infinitivo não se usa crase)
- Estou disposto a ajudar. (não se usa crase, pois antes de verbo no infinitivo não se usa crase)
- Fomos à Faculdade de Medicina. (usa-se crase, pois “Faculdade” é feminino e aceita artigo)
- Chegou a tempo para a reunião. (não se usa crase, pois “a tempo” é uma expressão adverbial masculina)
Conclusão
O uso da crase pode parecer complicado à primeira vista, mas com prática e atenção às regras básicas, é possível dominá-lo. Lembre-se sempre da regra fundamental: a crase ocorre quando temos a junção da preposição “a” com o artigo feminino “a”. As dicas de substituição por palavra masculina ou por “para a” são ferramentas práticas que podem resolver a maioria das suas dúvidas.
Se você ainda tiver dificuldades com o uso da crase, não se preocupe. Continue praticando e consulte este guia sempre que necessário. Com o tempo, o uso correto da crase se tornará natural em sua escrita.
Este artigo faz parte da nossa série “Dúvidas Comuns de Português”. Confira também nossos artigos sobre Os 4 Porquês da Língua Portuguesa, Onde ou Aonde? Aprenda de uma vez por todas quando usar cada um e Pegadinhas da Vírgula: Onde Colocar e Onde NÃO Colocar.
Gostou deste conteúdo?
Experimente nosso corretor de texto inteligente para garantir que seus textos estejam sempre perfeitos. Correção gramatical, ortográfica e de estilo em português, tudo em um só lugar!
Compartilhe este artigo: